19.9.16

Do silêncio

O gosto do silêncio é um quê de doce
O doce é um provar a saudade pela boca
É conseguir mastigar o tempo com prova
Não com o tédio velado, ou a alegria maquiada

O silêncio é o verso da vida
Cantando sua rima
Falando onde te faz casa.

28.6.16

#inspirações-003

Geraldo Azevedo
Ai Que Saudade D'Ocê

Não se admire se um dia
Um beija-flor invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir
Fui eu que mandei o beijo
Que é pra matar meu desejo
Faz tempo que eu não te vejo
Ai que saudade de ocê

Se um dia ocê se lembrar
Escreva uma carta pra mim
Bote logo no correio
Com frases dizendo assim
Faz tempo que eu não te vejo
Quero matar meu desejo
Te mando um monte de beijo
Ai que saudade sem fim

E se quiser recordar
Aquele nosso namoro
Quando eu ia viajar
Você caía no choro
Eu chorando pela estrada
Mas o que eu posso fazer
Trabalhar é minha sina
Eu gosto mesmo é de ocê

22.6.16

Trama

Na minha trama
Você olha a dama,
Perco sua mão
Tomo seu silêncio como gratidão

Bebo certezas tão minhas
Que minha escrita me convida
Ao meu mundo com ela
Tão íntima

Se faça por extenso, poesia
Na cadência de palavras sozinhas
Nessa imensidão de silêncio

Quando quem me tira pra dançar
É a lembrança,
Quem saudades têm, ciúmes

Quem tem raiva
É pai dos dois!

E assim dorme
Na nossa vista,
Palavras de nós dois

21.6.16

Sépia

faz pose pro meu retrato
que eu vou colar essa foto no meu quarto
na porta do meu armário
só pra lembrar o mais belo dos seus lados

faz um sorriso de maldade
escondendo uma fatia dos lábios com uma mordida
um olhar de serenedidade
só para eu lembrar de toda nossa intranquilidade

vai, espere ai, nessa fatia de luz e sombra
um filtro sépia de presente
que faça parecer antigo, o nós no hoje
nesse seu sorriso amarelo, escurecido do escuro de mim mesmo

me cole ao lado da sua foto, na vitrine dos meus olhos
para que a receba na sala do meu corpo
meio ofuscado de qualquer cor
para me colorir de teu amor

ser sua fotografia,
enquadrada no verde dos olhos que se fecham como lente
para dormir em minha frente
os sonhos de futuro, filtrados no nosso presente

20.6.16

Camaleão

Acho graça te ver, camaleão,
Acho graça, sempre ter graça para ver
Acho graça, ser o mesmo desvirtuado viciado em letras
Enquanto a sua graça, se virtualiza de deixar de ser
Assim camaleão,
Acho graça, da graça que assume
Por achar que a graça antiga não tinha graça
Deve ser por sua beleza ser de graça, que vai ver, não via
Mas vai lá fazer a graça de deixar de ser

16.6.16

Feito canela

Essa menina de alma leve
Dança no vento
Desafia o eterno em seu passo breve
Laça o querer em seu próprio tempo

Bailarina da liberdade
Não sei se gira ela
Ou gira o mundo,
No redemoinho de sua afinidade

Aprisiona a beleza em si
ou a beleza lhe doa os olhos
de quem a sabe definir?

é verso solto
sem rima ou contorno

ela é fotografia

12.6.16

Melancolia

E quando testemunho seu sorriso
Há algo em mim que sorri alegria
Nesse absoluto luto, fictício
Que chora uma eterna melancolia

23.5.16

Mundo de criança

No seu coração, cabe a fantasia de um mundo inteirinho
Ai do mundo, se não for igualzinho ao seu sonhar
Pois onde você mora, o sorriso é brisa e vento
E toca a todos com seu jeito de voar

Que seus sonhos alcem voos como as borboletas
Colorindo os olhos de quem perto esteja
E que você se saiba o jardim,
Filha da beleza como campos de jasmim

Que seu maior brinquedo seja a vida.
As palavras e a escrita, uma das suas melhores cias
Que o estudar, seja a sua escada
E que o céu e as estrelas tenham um gostinho conhecido de casa

Que seus amigos sejam seu maior tesouro
E que você descubra que a amizade é a maior riqueza entre vocês
Que o tempo seja seu dinheiro
E que você saiba sempre gastá-lo muito bem

Que esse presente, seja embrulhado e guardado na sua lembrança
Como uma casinha, num vale todo verde, de criança
Que deixei para você visitar sempre
Ao fim de uma estrada de barro, bem diferente

Onde é sempre seu aniversário
E a festa aqui
É a alegria de vê-la sempre contente.

17.5.16

#Inspirações-002

Os Barcos
Legião Urbana

Você diz que tudo terminou
Você não quer mais o meu querer
Estamos medindo forças desiguais
Qualquer um pode ver

Que só terminou pra você
São só palavras, texto, ensaio e cena
A cada ato enceno a diferença
Do que é amor ficou o seu retrato

Da peça que interpreto, um improviso insensato
Essa saudade eu sei de cor
Sei o caminho dos barcos
E há muito estou alheio e quem me entende

Recebe o resto exato e tão pequeno
É dor, se há, tentava, já não tento
E ao transformar em dor o que é vaidade
E ao ter amor,se este é só orgulho

Eu faço da mentira, liberdade
E de qualquer quintal faço cidade
E insisto que é virtude o que é entulho
Baldio é o meu terreno e meu alarde

Eu vejo você se apaixonando outra vez
Eu fico com a saudade e você com outro alguém
E você diz que tudo terminou
Mas qualquer um pode ver

Só terminou pra você
Só terminou pra você
Só terminou pra você

2.5.16

Apontamento

Se um dia eu for morto,
Com um tiro desses que saem pela culatra
Como dos três dedos que apontam para nós,
                                   quando apontamos um.
Que eu tenha aprendido antes,
A importância do perdão!

21.3.16

Outono

Nesse ciclo, são seus os dias do início
Nesse seu passar, são suas, as folhas que caem
Você infligi ao tempo, um abraço de vento
Desfolha a vida, renova dos galhos às nossas despedidas
Todas as minhas certezas, descoloridas com a sua vinda
Na minha tentativa de entendimento
Uso eu, no seu dia, estação e poesia

4.2.16

#Inspirações-001

Bukowski - O Pássaro Azul
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém te ver.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky em cima dele
e inalo fumaça de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
aqui dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres estragar o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão dormindo.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não fique triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer por completo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e você?
Charles Bukowski

27.1.16

Fantasias

Quantas fantasias emocionais
Somos tantos
De qual dos meus
Me sei mais?

Desse que nasce agora
Ou desse eu antigo
Que não vai embora?

Sou eu mentindo pra mim
Ou o mundo que já não me convence mais?

22.1.16

Tons de cinza

Sob seus tons de cinza,
Esse olhar rente ao seu, que a pinta
De preto e branco
Você veste, esse sorriso de sombra
É luz na minha noite
Desse contraste da sua tinta
A pose é sua,
Metade dessa minha sintonia
De ver no seu posar,
Poesia!

4.1.16

Sem se despedir

Quando lhe é retirado o direito ao adeus, a saudade escreve na alma um desejo de presença que não aceita despedida.