28.9.11

Conchas na areia

Quando for falar à poesia
Cito os meus murmúrios de respeito
Assino tudo com meu nome, para que tenham a quem culpar
Mas escrevo com letras de sereno
Que colhi no mar da vida

Como a quem recolhe conchas na areia
Brinquei de escolher gente, pessoa mesmo
Com certa irreverência, pois de todos sobrara apenas eu
Mas esse eu de ignorante, pois ainda sei-me burro de mim

E fui 'ajuntar' sem medo, alguns quase amigos
Esses que na hora certa em que a onda chega a praia
Estão à areia com você

Sempre mora mais em mim
Palavras frescas, dessas ainda molhadas de água salgada
Assumo, vezes algumas as colho em rios, então...
Minto se digo que não há doce preso em minhas conchas líricas

Colhi tudo no mar da vida
Ainda que não entenda esse baú de coisa sem preço
Meu apreço é dessa coisa toda dividida
Afinal escrever moço, é 'ajuntar' a sua língua embaralhada

De um dicionário sortido
Ou desse dividir íntimo de encontrar uma letra
No abismo de um 'A'...prolongue-o (aaaaa)!
Ou no suspiro de um U... esse de quase mesmo, (uuuu)!

Mas junta os 'pedaço' e vê se não sai,
Torcendo como pano velho, essa coisa de passado
Esse trapo molhado
Pra ver se não pinga

Amigos de hora vivida
Presentes para dividir o estouro da chegada
Da onda na praia,
Como um 'u' ou um 'a' que a gente encontra
Da palavra dividida
Eles a fração de Deus
Para Deus não se fazer mentira, nessa precisão
De métrica e companhia

27.9.11

De olhos fechados

Me leia com os olhos fechados.
Somos todos iguais aqui nessa casa de portas vedadas,
onde sós e nus,
nos vemos mais que no espelho do outro que nos lê.

19.9.11

Fotografia

Escrever é como fotografar com os olhos alheios,
é permitir o enquadramento pelo outro,
é deixar a composição em outras mãos, ou interpretações.

É de fato se fazer retrato em ação, ali paralisado
na face de quem agora só me lê fotografia.

Nunca temi morar em nenhuma retina, tampouco me negarei
a enfeitar móveis com passado.

Molduras ciliares me encerram.