18.2.17

Da nossa manhã

Gosto de colher a felicidade como quem rega plantas para ver folhas
Gosto quando acorda, ainda com sono
E eu posso molhar toda sua manhã
Ver brotar você, como se não existisse o resto do dia

16.2.17

Se existir perdão

Meu melhor escudo é esse sorriso
Essa felicidade que já não sinto
Zombo do descaso do meu destino
Já não me irrito, aceito e pronto

Já sei que ficamos pra trás
Eu ou você e o nosso tanto faz
Nossa insistência é um animal selvagem
Fingimos sua inocência, ou do que é capaz

Brincamos com explosivos,
como se pudessemos controlar os riscos
Pouco importa nosso futuro
O deixamos sem ter o que comer, com nossos vícios

Não há segurança pra todos os nossos perigos
Não há abrigo para o frágil que criamos
Perdemos o tempo dançando com nossos medos
Escolhemos a parte falida do que vivemos

Tentarão me convencer que a dois é difícil ser
Só é assim aos que forçam encaixes sem perceber
Depois da facilidade sorrir na minha cara o óbvio
Será a vez da certeza de dizer que foi tão próximo

Que o amor perdoe nossa covardia
Por uma saudade que devora cada um dos nossos dias

15.2.17

Não se justifica

De que serve a razão se quando ela se justifica
A ação é quem sofre de abandono
Me serve mesmo a palavra, esse meu registro
Alí, com data, naquele dia eu fui poesia

Essa coisa manca de conceitos
Atarefada de enfeitar o agora com seus adereços

Quero mais noites como a de ontem
Dias, como a manhã de hoje
Em que nasci na sua boca
Sem precisar dar qualquer nome

Vai ver a verei de novo, talvez algum dia
Esse precisar de certeza é a tolice do homem
Quero seu descaso em mim
Seu descompromisso

Como a nossa noite sem fim ou início

#inspirações-004 - O apanhador de desperdícios

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros

6.2.17

Miséria

A poesia é meu purgatório
Me anuncia os segredos do amor
Esse silêncio, que mata quem hoje dormiu sob a chuva
E que me faz lembrar todo dia, os seus choros de agonia

A poesia pintada de vermelho
Vermelho vivo do coração que sangra
Não vê na sua esquina, como a fome se alimenta de mais um?

Mas se choro eu a sua falta, quem há de dizer que não há dor?
Deve ser assim, a falta dele, me servem um jantar de miséria, do que não se tem...
Nele, me fastio, me sei eu!

Ah o seu amor, esse que ao dizer de mim, alimentava minha alma.
De quantas misérias de mim, me alimento, que ainda existe alguém que deixo por morrer de fome.