17.3.14

Dia de Poesia

A poesia é o meu não entendimento por extenso,
quando da vida, quero um contento

A poesia não é meu recurso, é ela quem me toma e abusa
quando para ela a causa é justa

A poesia não é meu brinquedo, que eu tomo a revelia
e marco no seu olhar a minha visão distorcida

A poesia é que me usa, que a compreensão só me resta
para justificar a loucura de ser tomado por ela

A poesia, é uma razão da vida que a própria vida
não precisa

A poesia é um pôr de sol sem fotografia, sem grafia,
é a abstração do entendimento
uma ideia que a palavra desperta depois de lida

A poesia é o espelho dos sentidos,
sem dar nenhuma forma ao que se revela

11.3.14

Acredite

Se eu pudesse lhe sussurrar os meus anseios
Será que teria os meus calafrios?
As promessas que faço são levianas e mornas,
diante do que vejo com os olhos fechados.

Eu poderia lhe dar o mundo, aquele dos sorrisos,
dos crimes justificáveis, dos erros desculpáveis,
do suor das manhãs esgotadas de sol e pele

Eu poderia correr a vida
Com a mão estirada ao seu alcance, 
Para que tivessemos o apoio no cansaço
E o abraço na vitória

Eu condenaria a sua dor à solitária,
Anos a fio, mas não impediria que você a visitasse,
Pularia os muros feitos de cada não
Converteria as incertezas, com esse meu otimismo desmedido

Seríamos capazes de tudo, os infinitos recomeços
O reconhecermo-nos a cada intervalo em que mudamos
Sempre com o mesmo entusiasmo
Esse que cria a paisagem da estrada e no fim, um abrigo

Não fosse, por não poder pedir que acredite no que vejo,
não fosse os olhos fechados e o sonho,
não fosse a verdade de que a sorte pode lançar os dados

E posso parar na outra haste de um bilhete deixado sobre a mesa

10.3.14

2:14 - AM

O relógio me agride,
Ele grita,
- Uma hora da manhã!,
num silêncio retumbante, acredite.

Ele estampa na minha cara
E mira o tempo no entendimento
Minha insônia dorme sua madrugada
Enquanto eu a aprecio e acalento,

Ou eu dou voz a todo momento

A um velho amigo que anda trôpego
Batendo meio torpe
Sem fôlego

Me pedindo um pouco mais de tempo?

Sorte tem o homem que a insônia desperta
Acorda e vigia de longe o sono
E ele sem saber, vítima de um adiamento
Sonha sem querer

Que quando acordado
Ela lhe rouba o tempo em pequenos ensaios
Ou lhe toma o futuro inteiro
Com seus presságios

Já não importa tantos anseios
É o nosso estar presente o que damos
Hoje sou eu quem não adormeço

Pois é quando o tempo voa
Que vivo todos os meus intensos!

6.3.14

...

A gente já não fala mais a mesma língua
Você busca abrigo em antigas marquízes
Eu me escondo numa nova vírgula,
Enquanto a sombra torneia nossos deslizes

Você faz cair folhas passadas
Agitando uma velha árvore
Pintando a minha calçada
Dessa tristeza de mármore

Pouco nos importa, além do que era posse
Sobrou de mim um livro lido
De você, um desejo de sorte

Sabe aquele corte?
Passou, remediei com soro e gaze
Sabe aquela frase, que você gostou?
Eu guardei com tudo que sobrou

O que não passa mesmo é a gramática
Quando eu falo de pronome possessivo
E você usa livre como adjetivo
Nessa nossa errante temática

Vai ver foi sem querer
Que a gente não deixou de gostar
Nos apertamos num encaixe de ter
Para esconder em qualquer lugar o dar

Vai lá e sorri na cara dele a beleza que não soube extrair
Que eu vou ali,
desmedir o beijo que sempre foi seu

Abraça-o tão forte, mas sem mentir
Que eu vou ali,
dar o meu amor como se não tivesse conhecido o seu

A culpa é mesmo do nosso português,
pois o eu não combina com você
Mesmo que você, combine com aquilo que era meu