29.9.09

Deixe-me, mas não!

deixe-me alimentar de teus desejos,
dos teus sonhos, deixe ao menos eu gozar
gozar da tua conquista com meus lampejos
gozar de teu deleite, com meu azar

deixe-me ver a tua corrente
deixe-me lançar
deixe-me cortar, nas tuas pedras, evidente
deixe-me sangrar

deixe-me torpe e entorpecer
deixe-me criança, ser
deixe-me homem, no teu colo, ferver
deixe-me, só pelo seu querer

não, não atenda, a meus pedidos
não, não julgue, meus delitos
não, não aceite, o meu corpo arredio
não, não compactue às súplicas, de teu paraiso

não, não atormente, com meu falar, o teu juízo
não, não releia, meu devaneio perdido
não, não converta em verdade, meu zumbido
não, não veja sanidade, em meu cochicho

me tome, pelo ato, sem pensar
me devore, pelo gosto, sem provar
me domine, pela força, sem tentar
me sonhe, pela vida, sem principiar

22.9.09

Ela passa

Ela passa na calçada à frente
com seu cabelo solto
Andar apressado, quase sempre
embolado com as coisas que leva
Fácil segui-la, meu olhar bobo
e o mundo pára no seu repente

Ela passa no meu pensamento
com sua graça
Andar provocante, como de costume
fruto da minha fantasia
Minha paixão, laça
leva pedaços do meu lume

Ela passa na janela
Seu olhar bordado a brilho
mastiga minha alma, com sufoco
Minha pele atravessa
acomete meu íntimo
Nas suas curvas, sou louco

Ela passa, pr'o passado
Enquanto penso em escrita
para guardar em letras
O que o tempo nos tira

21.9.09

A Marca

No chão tua mancha
Na sala do meu corpo
Tua marca
Teu último gozo

Marcado, por dias
Chão e eu
Hei de permitir, é meu!
Quem sabe assim, não finda

À tua busca,
surto da pele crua
Apego-me a teu resto
Para beber, da noite, o véu

Quiça lance-me a superfície fria
Para despir vontade íntima
Sabendo tua ausência
Enganar-me-ei ou fingirei

Para a saudade que verte
Feito companhia
Que de frio, veste
Dormir e vida

8.9.09

Palavras

Atormento, mente
Minto, mentes
Palavra, encanto
Não te resguardo
Nem me guardo
Errado, te lanço
Teu mover
Ora dentro, ora fora
Enlouquece, outrara sã
Do teu terreno
Terno, umideço
Preparo a casa
Subo, desdenho
E me afugento em seu mundo
Repleto, nem brilho
Encharco, o peito astuto
Laço no lábio
Águdo!
Berro!
Olhos que te falam mudos
Movimentam-se corpos gélidos
De poemas descartados
Previne-se
Versos de veneno recoberto
Peçonhentos
Animas, verbos
Humanos bichos
Seres libertos
De quem escreveu
Mim e você em versos
Não!
A vida hoje é pouca
Vale a morte burra
Do desejo sem alma
Da palavra
outrora plantada!

3.9.09

Dê-me

dê-me tua sede e fome
crave em meu peito a tua dor
arregasse meus olhos, com tua ferida
arrebata-me a alma com tua fé

dê-me tua exaustão e mentira
cale minha falácia com teu silêncio duvidoso
force a entrada de minha casa e me roube a calma
derrube as minhas crenças e sustente tua verdade

me enfureça...
me enlouqueça...
me repreenda,

Mas não!,
Não silêncie!

não me lance a tua inércia
não me solidifique no ócio de tuas lembranças
não me condense de tua quietude

é tua rebeldia e impulso
que saciam a minha escrita!