28.5.15

Clava da vida

De qual mentiroso são todos os dias pares
A quem pertence esse dizer
Que a felicidade é provada nos ares?
Com esse cinza que decoro meu ser

Se sempre sorriso, qual então sua graça?
Se sempre tristeza , que alegria mereceria?
Que amar, não fere a dor de não ser farça?
Que farça amordaça a felicidade que seria?

Da tirania da vida, ninguém escapa
Ora, se sabes-se vivo, que há de mistério?
É de sua clava,
todo querer, sofrer seu demérito

Que tolice a de ofertar-se ao tempo
Um dia, o mais antigo
Terá dito, que fizera dele seu amigo
Para fingir ao fim, empenho

Então, guarde seu palavrório
Esse júbilo falacioso
Hoje eu sou crematório (de mim, é verdade)
Uma cortezia cinza de um morrer audacioso

Ceifadora

Tem dias que a natureza deveria ser carinhosa com a nossa ínfima expressão de existir, nos tirar a vida como uma mãe que nos dá colo. Carinhosamente, até que os olhos se fechem. Tem dias que morrer me soa mais como um sorriso que como um adeus de qualquer tipo.

18.5.15

Desconstruindo

Eu gosto de me desconstruir
De esticar a vida pra entender a falta
De grudar até ser composto por parte do outro
De justificar com encanto a razão
Eu prefiro me desfazer em farelos
De abraços,
De olhares,
De gostos
Assim, me decompondo inteiro
Fatias de mim
Que o tempo leva como rasura
De um advir perfeição
Eu ainda prefiro ser poeira
Essa que gruda com o vento do sentir
Na superfície desértica de sua pele
Como se fosse, das suas pintas, o contorno
Eu ainda prefiro morrer no sim
Tempestade de mim
De querer ser
Levado como areia pelos seus pés
Que deixaram pegadas
De que um dia, você passeou em mim.