16.12.09

Calunia

Eu vou escrevendo os meus borrados
meias verdades, exíladas da memória
sem pretextos, violões artesanais

é vivacidade literária, esse que, à frase dita
da pura verdade anunciada
ainda que a calunia, seja minha visita

a primeira, na manhã que se aproxima.

irá gritar seu nome, com minha ira
enquanto me desprendo da palavra escrita

nem é meu, é dito
verbo engolido, esse Não rebuscado
que me lança à boca, para engolir amargo

enquanto a vida chega de mansinho, tocando cordas de aço
vibrando seu cochicho, enganando o acaso

para encontrar olhares com o sol
suspender as aves, como se fossem papel
virando o girassol
levando as nuvens ao léu

cantando promessas vivas
adormecendo a minha fome, clareando teus olhos
me fiz infame, por sentimentos tortos

esfarelei a melancolia, disfarçando lama, moldando argila
para ver o crepúsculo do meu muro
nas rimas de suas sílabas

9.12.09

Chuva e vento

Ventania de sonhos
soprando segredos
esperando as correntes do norte
inflando veleiros

o ar que chega de longe
vem quente do Sul
abraça teu corpo
te veste de azul

dançará
teus passos
a chuva fina
que beija o vento
em teu dançar?

costeando a terra
no meio do verde do mar
barco perdido
em curvas e fio

é beijo de chuva
com gosto de vento
na pele do sol
tempestade e relento

conto da brisa
virando farol
querendo tormentas
procurando tua ilha

palavras cheias
tornados de amor
tornando passáro
água e calor

7.12.09

Quem sabe?

Quem sabe não era para ser assim.

Quem sabe se não é para ser assim mesmo?

Quem sabe não conta,
mas sorri de meu presente aprisionado

Dos dias atordoados, por cada texto que não finda!

Quem sabe, silência
cada oração que surge, morta, pois lhe arranca o verbo

Quem sabe, degusta de meu desejo em sargeta!
Não se pronuncia e nem alivia,

Derrama em minha vida, a ignorância revelada
que lhe arde, e ardeu, no dia em que falou quem sabe,

Que assim era pra ser.

6.11.09

Lua

E seus olhos me cegam
Sua voz me emudece
Atropelo o tempo
Na pressa dos anseios

Vivê-la em um dia apenas
E nos outros, sem mais
Advir tempo,
Paz?

E que brote no clarear da noite
na face escura da Lua
que não se vê daqui

E em seu dançar, víl
que vire-se a minha mancha
gravada sem rima

Meu folclórico poema
Minha tardia, certeza
De que assim
Assim, me veja!

30.10.09

Promessas

E eu que há muito não escrevo
pareço ter perdido o dialeto dos sentidos
Eu que te prometi poemas
Hoje lhe dou em cada manhã, morna, silêncio

Esse, rebuscado de verbo,
Uma ação fria e recorrente, traidora em cada verso
Não há, senão por existir,
E é silêncio o que escrevo

No vazio de minhas mentiras, ainda prometi
Respostas às suas cartas, essas tão cheias de...
Não há nome, para o que não se conhece mais
Mas elas nunca vieram

Enganei a mim mesmo, com minhas promessas
E justo eu que me conhecia tão bem

O beijo

Essa alma pobre hoje que te escreve
Não é a minha voz quem fala
Nem meu corpo que sente

Há quase um coração, a parar
Se a ti necessita um amor,
O amor que me abriga, parece morto

Não sei se o faz como um animal a espreita
E por fim irá desferir-me seu golpe
Deixar-me entorpe com seu veneno doce

Ou se já sou um desejoso de goles maiores
Algo como um beberrão, que poucas garrafas
Saciam tão pouco que só torna a boca esvair-se em água

Esse com um quê a mais
E não tê-lo,
Ah!
É como trair-me em demasia

Cansar o já cansado bater
e me vem ora ou outra, um beijo
De tão verdadeiro, entusiasma

29.10.09

Vazio

Sou calado pela imagem fria, tua
Nem palavras, nem som, o meio se faz vazio
Estrondos ecoam a distância mais curta
E o que ouço, senão mais que meu berro esguio

Entregue à cortesia, meu ego esquecido
Ser ou não teu, não é mais minha escolha
Meu corpo, tua morada, deixado sem pedido
É a ira de ser teu, e o medo de sê-lo

Sem freio, nem sai nem fica
Percorre em minha consciência gélida
Estático, punhos e olhos, de quem finda
Palavras inertes, presas, já nascidas

Mortos, texto e razão
Sem argumentos à sua saída
Sem tê-la, advir então explicação?
Silência, minha morada, ainda que não, simplesmente vazia

22.10.09

Saudade

Saudade é esse grito da alma
É a vontade rendida pelo não

Saudade não é apenas a lembrança viva
É a vida da incerteza, do quando
E a imprecisão do tempo para o que será

Saudade é esse silêncio que fica na sua ausência
E o berro do teu olhar na minha memória

É o caminho irrecusável do amor
A trilha em meio a mata de teu ser
Para ser

Senão, nós!

É de tudo a verdade
Pois se finda em saudade
Só o que foi bom

5.10.09

Beleza consumida

Se no peito de todo homem
surgisse o amor a ela
e ela, sendo bela, vertesse o cosmo
Do divino, fosse espelho

Se amaria, penso eu.
Mas hoje faz o homem,
se não pelo poder?
Corrompido por sua criação
consome, sua desordenada ordem vazia

O caos, livre a seu bel prazer
veste a casa do mundo
E toda revolta é uma fatia da ordem
Se todo charme que seduz aos olhos
contém, por fim, harmonia

Que a revolta, seja da beleza
O seu olhar exótico!

Oras, então não manchemos o nosso rosto
de lágrimas e maquiagem,
como se consumissemos o lápis, o pó,
a verdade, em águas sujas, pelos rios da face

4.10.09

Italiana!

Te procuro sempre
e sempre, no começo do meu dia
Se não te vejo,
te procurei antes

E só o faço por vê-la,

Aqui, no silêncio da minha mente

1.10.09

Leminskiando I - Pensar

Nunca pensei que fosse ser assim!
Mas na vida não se pensa,
- Pensa!

Não quero mais,
Mas que pensar seja só
Pois quem quer, tarde parte

Na vida jamais pensei
Ser a mais

Se mais, que seja
pois cansei de pensar!

Não era pra ser assim,
será?!

Já pensei

29.9.09

Deixe-me, mas não!

deixe-me alimentar de teus desejos,
dos teus sonhos, deixe ao menos eu gozar
gozar da tua conquista com meus lampejos
gozar de teu deleite, com meu azar

deixe-me ver a tua corrente
deixe-me lançar
deixe-me cortar, nas tuas pedras, evidente
deixe-me sangrar

deixe-me torpe e entorpecer
deixe-me criança, ser
deixe-me homem, no teu colo, ferver
deixe-me, só pelo seu querer

não, não atenda, a meus pedidos
não, não julgue, meus delitos
não, não aceite, o meu corpo arredio
não, não compactue às súplicas, de teu paraiso

não, não atormente, com meu falar, o teu juízo
não, não releia, meu devaneio perdido
não, não converta em verdade, meu zumbido
não, não veja sanidade, em meu cochicho

me tome, pelo ato, sem pensar
me devore, pelo gosto, sem provar
me domine, pela força, sem tentar
me sonhe, pela vida, sem principiar

22.9.09

Ela passa

Ela passa na calçada à frente
com seu cabelo solto
Andar apressado, quase sempre
embolado com as coisas que leva
Fácil segui-la, meu olhar bobo
e o mundo pára no seu repente

Ela passa no meu pensamento
com sua graça
Andar provocante, como de costume
fruto da minha fantasia
Minha paixão, laça
leva pedaços do meu lume

Ela passa na janela
Seu olhar bordado a brilho
mastiga minha alma, com sufoco
Minha pele atravessa
acomete meu íntimo
Nas suas curvas, sou louco

Ela passa, pr'o passado
Enquanto penso em escrita
para guardar em letras
O que o tempo nos tira

21.9.09

A Marca

No chão tua mancha
Na sala do meu corpo
Tua marca
Teu último gozo

Marcado, por dias
Chão e eu
Hei de permitir, é meu!
Quem sabe assim, não finda

À tua busca,
surto da pele crua
Apego-me a teu resto
Para beber, da noite, o véu

Quiça lance-me a superfície fria
Para despir vontade íntima
Sabendo tua ausência
Enganar-me-ei ou fingirei

Para a saudade que verte
Feito companhia
Que de frio, veste
Dormir e vida

8.9.09

Palavras

Atormento, mente
Minto, mentes
Palavra, encanto
Não te resguardo
Nem me guardo
Errado, te lanço
Teu mover
Ora dentro, ora fora
Enlouquece, outrara sã
Do teu terreno
Terno, umideço
Preparo a casa
Subo, desdenho
E me afugento em seu mundo
Repleto, nem brilho
Encharco, o peito astuto
Laço no lábio
Águdo!
Berro!
Olhos que te falam mudos
Movimentam-se corpos gélidos
De poemas descartados
Previne-se
Versos de veneno recoberto
Peçonhentos
Animas, verbos
Humanos bichos
Seres libertos
De quem escreveu
Mim e você em versos
Não!
A vida hoje é pouca
Vale a morte burra
Do desejo sem alma
Da palavra
outrora plantada!

3.9.09

Dê-me

dê-me tua sede e fome
crave em meu peito a tua dor
arregasse meus olhos, com tua ferida
arrebata-me a alma com tua fé

dê-me tua exaustão e mentira
cale minha falácia com teu silêncio duvidoso
force a entrada de minha casa e me roube a calma
derrube as minhas crenças e sustente tua verdade

me enfureça...
me enlouqueça...
me repreenda,

Mas não!,
Não silêncie!

não me lance a tua inércia
não me solidifique no ócio de tuas lembranças
não me condense de tua quietude

é tua rebeldia e impulso
que saciam a minha escrita!

24.8.09

À porta de Hades

De toda inteligência inconstante,
Vinga-se a ignorância bruta da alma
Das evidências de uma vida
O tormento das lembranças

Vingar-se-á cada Deus, por criar um homem
Já o faz na intolerância de suas guerras
Vingaremos a nós, extorquindo dos Deuses, suas fábulas

Caminharemos às trevas, por distração
Não há busca, senão exercício da maldade

Forçaremos as portas de Hades,
Em súplica e envaidecidos

Ninguém fora tão longe,
Não nos caberá mais a morte
A conheceremos em vida

27.5.09

Colmeia

Ah, teus verdes olhos castanhos!
Do mel, teu

Que no tempo,
Fizera doce, tua ousadia
De me cantar saudade
Na tua despedida

E minha companhia
Solitária brisa
Fizera-se rainha

Calma colmeia, cálida
Que ensina

Todo silêncio esconde um verbo
Uma verdade seduzida
Cada esconderijo
Uma chave,
Sopro do desejo

Capricho vaidoso
Do deslumbre, da vida!

Inflamada alma

A dúvida vinga-se
Porque é ela a armadilha
Do destino

Minha inflamada alma
Arde cada dolorido pensamento
Nativo do passado enriquecido

E a vida, que sua metamorfose
Nos devora,
Saboreia!

De mim e tudo meu
Do teu sorriso, inicio
À minha, salgada, lágrima sua

Duvido eu, da vida
Essa mesma que me escreve
E não revela a tinta

Não mostra, nem mesmo,
A próxima linha
Nessa silhueta de poema
Ainda que seja só poesia

22.5.09

Visita

A ví esta noite, vinhas em minha direção, como uma brisa fria, que cortara o quarto.

Muda, com a expressão mais linda. Sorrias, sem mover a face, teus olhos descreviam o mais virgem prazer, fazendo com que meu corpo respondesse com um suspiro, fora o mesmo que tragar de uma bebida quente em uma noite de inverno.

Vestias-se como uma princesa. Um vestido longo, cor salmão, pude ver quando o mesmo deslizara por seu corpo.
Com um toque suave de tuas belas mãos, ao ombro, soltando uma das alças, que até o instante o prendera.

Desferi um movimento, o qual cortara, sem som o ar de silêncio que nos envolvia, teus olhos agora fitavam os meus, teu colo se encontrava nu, e a beleza feita de pano, dobrara-se sobre minhas mãos, envolta a tua cintura...

Foi quando se virou, senti o toque leve, sobre minha pele. Poderia então eu ver o quanto era bela tuas costas nuas, apreciava o adormecer de teus cabelos ao ombro.
Teus pés, eram firmes e lindos, caminhavam um frente ao outro, como a quem passeia nos bosques à busca de flores.

Sem mais ver tua forma, pude ouvir o bater da porta,...
leve, como a quem pedisse perdão.

18.5.09

Aço em brasa

Ele vem cortando o ar, com seu corpo em brasa
Sua rotação, translada em velocidade, vara
Corta vento, verte rubro

Dedo contraído, direcionado ou não, propulsiona
O estrondo, insinua sua força
Tamanha, que a covardia é corrompida

A menina que corre, brinca
Entre bonecas e cinzas de pedra
Garoto briga, corre com arma, atira

Adiante, outro grita...
Há medo, no assovio frio, zumbido
No anúncio da eminente morte, efémera

Pára, tempo, entremeio de agudo à queda
Olharia teus olhos vermelhos se os tivesse!
É fugitivo escravo, à serviço do meio

Congela o mundo, mudo
No seu trajeto, caem corpos
Dois em sintonia, menino e menina

Um pouco dele morre, na morte alheia
E na retomada de tua fúria
Tufão metálico, de aço

Leva da degradação à esperança,
Ao culto coletivo do silêncio atrofiado
Leva ainda, à cabeça as mãos,

Lágrimas a ermos rios, vazios
Que desaguam em vermelho vivo
Onde dorme o tiro

Agora silência, cega,
Rotineira violência que nos apodera
Por acharmos que o medo, à fala cala!

Vento frio

a casa, ainda continua vazia,
a porta do quarto entreaberta

o silêncio é pavoroso
sua imagem turva passa vez ou outra no corredor, ou no jardim,
mas em perfeito engano a imagem se desfaz e te leio
na folha que voa no vento frio que vem pela janela

hei de te ler toda vez que tua imagem me assombrar
com a certeza de que existir é ir além,
é sentir,
o que nem sempre se expressa!

30.3.09

Naufrágio

Como barco, rumo a meu naufrágio
Corpo levado, por essa âncora de alma, ao precipício alheio
Quem sabe, eu só exista, por que você também o faz?
E quem sabe se ...

Lá vem outra onda, nesse oceano de vida
É o acaso que destrói o casco
Nem a poesia compõe, nossas mentirosas justificativas
E eu, que só queria econtrá-la

Morro à carona de você.

24.3.09

Estrada

Então, descanse, sente

sente aí na beira de sua estrada,
dessa vida imensa que já se passou,
dessa imensidão, veja só o horizonte, tão longe
do tudo e nada, que ainda não veio

descanse

veja o sol acima
o imenso céu azul,
perceba, que nem do amanhã nos é permitido saber
nem se lá na frente terá uma sombra ou árvore
mas por agora, enquanto eu não sei as respostas, me sento

preciso de mim e de meu descanso
e quando meu pensamento enganar-se
e me arremessar ao passado contristado
posso chorar, ainda hoje

embusteiro pensamento!
e faço isso, porque preciso cuidar de mim,
e por agora, preciso mais de mim a qualquer outro

e então, quando renovada, mente pensante
alimentar-se-á do horizonte, como esperança,
embreagar-se-á de todas as fantasias,

volto à beira da estrada minha
com a esperança em mãos,
sabendo que metade dela é sonho e a outra,
ah! Essa outra, depende do meu caminhar

e quando meu corpo, de mim satisfizer-se,
deixarei cravado à beira, a cruz
vou me levantar, deixar um corpo
e andar, vestido de um novo

17.3.09

Sabe se ler?

terei que te subjugar
calar-te com minha poesia incisiva
para aprender, que é tua vez de ser lida

queres do meu Demônio a insanidade,
mas meu Anjo veste sua maldade,
e ainda é apenas infantil,
ante minha escrita

sente-se
leia,
veja-se
já és de mim parte e não há escondidas
te vejo no canto e abuso do seu medo, te calo

na parede de letras
no meu letreiro de poemas
quero sua atitude imediata,
sem seu texto pensado

sem parágrafos articulados,
quero a presa esguia,
ou um teste para deixá-la ser minha guia
ou guiar-te-ei feito fera
feito louco
no texto que nos impera

Sem te ver

Sem te ver, é como viver a eternidade
sem o perfume das rosas,
sem o frescor do tempo,
sem a calmaria dos lagos,
é tudo dúbio, forte e angustiante.

Carta pra ninguém

Essa é uma carta para ninguém
... fale mesmo que só tenha a mim para te ouvir,
mesmo que deseje o fim, estarei aqui deste lado,
do seu lado, pensando no novo início.

Vou guardar as minhas forças para superar a sua queda,
mesmo que só me encontre no espelho, no reflexo de uma lágrima.

Talvez perceba que não sou só tua força, mas a tua essência,
ou a essência do teu instinto primitivo de viver,
farei de mim você e quando se calar tomarei teu impulso
e vestirei teu corpo.

Perceberá que sou o seu tempo, seu segredo de si mesmo e
te darei a mão, me darás nomes e ouvirá sempre o seu chamado,
ainda que não me aceite como você.

Não vou me impor, isso me faria sem sentido,
mas tenho vida e isso sustenta-te, revigora teu imo e clareia teu olhar.

Peço-te, somente, confie.

E chegará o dia diferente dos outros,
onde perderá a tua face e serás eu,
mesmo que eu volte a crescer sem você saber.

Sou o seu objetivo abstrato, o foco nem sempre claro,
o grito na garganta contido, sua censura reprimida.

O verbo que percorre o teu espírito é minha forma de chorar,
mas você não vai me escutar, não vai me entender,
vai tentar me educar e acabará por me esconder.

Vou assombrar o seu pensar e quando quiseres me romper,
vou me revelar, vou aparecer e saberás que sou você.

E vamos voltar a acreditar, mesmo que eu volte a crescer sem você saber,
me chame de sua vida, de experiência, do que quiser.

Mesmo que eu prefira ser chamado de você.

Silêncio

Se há vida, por que tanto silêncio?
A tua voz tem vida própria, e me visita sempre

Ainda, que por último, seja teu silêncio berrante.

Ah tua voz, guardada em lábios tortos, brinquedos de menina!
Ah tuas mãos, segurança de amigos, rédias de turbilhão!
Ah tua alma, sem vista, cega, justa, límpida e clara!

Ah!

Me falta, e faltarão sempre, todas as palavras que tu ferves
A cada tempo de reclusão.
Mas jamais, esquecerei, as tuas escritas, tua doação toda
De febre e inspiração.

Que um dia ousei compor!

Véu a guiar

E te fito os olhos, mora no espaço de cada sorriso
Abriga os cabelos soltos,
E se finge, dessa que sorri

Mestra desse corpo, que veste sem pudor
Mistura mistério, mulher e moça
Ah moça! Enganas homens ou dança com eles, a morte dos mesmos.

Impenetráveis almas, ancoradas, nas cicatrizes
No seio de todo poder, mora o desejo intrépido de abuso

Abusar-se-ia se pudesse, e talvez o faça no seu mundo.

E na minha mente, onde quem finge e mente é poeta
É o discrente que há arestas no sorriso
Por crer na alma que domina o corpo cru.

Adentro suas vicissitudes, não encontrando lágrimas
Nem a elas me refiro,
Mas descrevo, aquela que dança

No palco da vida, seduz, no íntimo
Brinca, por trás da menina
A mulher, que avisto

Deusa de si
Amarra, prende, surpreende
Quando o véu lhe caí, e só o fez, ou faz
Para quem tem a coragem de morrer

Pois para vê-la, merece quem atreve-se.

Herói

É aquele que em meio a todos, não perde a fé.
Ainda que inspire a dúvida em todos, pois é preciso fazer crescer o pensamento,
na busca incessante da certeza singular.

É aquele que teme pela vida alheia,
e busca a luta por certeza da vitória,
pois a derrota encontra-se na justificativa da batalha.

É aquele que primeiro venceu a si.
E assombra os seus, por saber-se só
e revelar a solidão, para que não o sigam,
mas não temam.

É a voz baixa e o recuo, o apressar-se em acalmar-se.
Pois a vida é longa e rápida, e a seus olhos nada escapa,
não há dia que passe, pois não se foge de seu tempo.

Heróis são aqueles, que escolhemos não como líderes
pois eles não desejam seguidores,
mas quem escolhemos para morrer ao lado,
pois a companhia mostra a confiança, e a morte
a certeza de estar do lado certo.

Por onde andei

É preciso andar por onde andei,
Conhecer o chão, pelos calos nos pés
É preciso conhecer o sol, nas queimaduras ardentes da pele fresca
Castigada não pelo tempo, mas pelo chicote que levo em mãos
E pela luz

Esse corpo que nunca caminhou à sombra, e fala como velho
Porque andou feito vivo, onde caminham mortos
É preciso conhecer o ser, nos olhos que te fitam,
É mesmo preciso, para perdoar e amparar

É preciso ocupar a minha alma, para que me conheças, pois andei
E ainda hoje, com os pés no chão, ando, entre mundos e pessoas
E nada é como antes, porque só eu mudei

Eu não sei ao certo, ainda que eu acredite

Eu não sei ao certo se tive outra vida, ainda que eu acredite.

Eu não sei, nem ao menos, se o amor que sinto é honesto a mim,
ou a quem amo, ainda que o sinta.

Não sei se o que escrevo é poesia,
ou síntese de alguns guardados que levo numa mala de carne e osso,
ainda que acredite e seja sincera.

Não sei se tudo o que desejo e sonho serão verdades convertidas assim,
para esse substantivo em real, mas por tê-los comigo já o são, acredito.

E você que a muito não vejo, e a saudade presa a sua solitária,
queima as cartas que não me escreve,
em revolta a mim como dono deste edifício de lembranças.

Acredite, lembro de você na fumaça que me sufoca.

Chegada e partida

Por que temes o meu amor... diluído num texto qualquer?!

Caminho nos bosques decorados de suas palavras.
Quisera montar meu mundo, quisera dar-me o labirinto
de sua essência?!

Sei que na mata condensada de você, adentrei,
entrelassado às raizes que caem de cima, como cipós,
braços de sua linguística que me amarram...

Preso na mística de seus devaneios e desejos,
encapuzados das verdades que esconde.

E como outrora... surge e some... se vai como brisa,
após ter sido tempestade em minha terra...

E que o mar guarde sua fúria, que os céus resguardem
os ventos que deram às ondas minhas, tamanho e força

Que ao tê-la por mais uma vez, saiba cativar o seu ficar,
e que não mudem as direções os ventos que uivam como fantasmas
hoje na janela do quarto que te escrevo, ao relê-la.

Sem sentido

Eu já escrevi um milhão de poemas
E a mim nunca dei sequer uma linha escrita,
Já me fiz em rima, para tirar-lhe sorrisos
Quiçá fingidos, quiçá risos!

Sou de mim presente ermo
Avesso do todo conjugado em tempo meu
Ah que ironia escrever-lhe em mim

E desmorono todos os prantos
Esses sim, lágrimas, o sal desperdiçado
Ninguém lhe nega a verdade
Cristal leve de alma dura

E que caiba em sua visão
Um olhar meu, acentuado de passado
Uma busca minha de presença, em presente
E que eu lhe permita

Ser por hora,
Ou por hoje, somente agora
Trechos de texto, faces de poema
Palavras de lápide

Onde lê-se, mim
De mim mesmo
Já se fizera sentido em não tê-lo
Por razão

Já faz tempo

E já nem faz tanto tempo assim
E já faz tanto tempo
Tempo que não a vejo
Tempo que condenso tal saudade

Já se faz saudade, desse tempo
Que mata o tempo em verdade
Quando juntos, matamos a saudade
Em tempos vorazes

Faz mesmo tempo, amor
Que o amor faz o tempo
E a saudade que hoje persiste
É do tempo que outrora presente

Um dia escrevo sem medo dos erros
Palavras de quem te espera
Em fim de dias comuns, em dias vindouros
De quem jubila-se com a voz, com a forma, com os nós

Ah que saudade, da voz
da palavra, dos nós...
Do tempo que constrói a saudade
de amanhã.

Febril de escrita

toma-me um desejo louco,
compulsivo pelas letras,
preciso alimentar-me de pele,
pelas linhas que hão de vir...

preciso de uma testemunha da minha paixão
preciso de um sonho quase em vão,
mas preciso...

desse punhal literário
que degola minha sã sabedoria
e me coloca no chão entre seus pés
como um apaixonado exagerado!

Não, não tente!

não tente me entender,
não por mim nem por você,
nem sonhe viver a minha loucura,
meu mundo é seu medo e seu medo é minha cura

Tornar-se-a irmão

Eu não te ví crescer, mas resolvi crescer com você
Achei que poderia ir sozinho sempre,
Sorte ter a sua mão extendida, sem sabê-lo presente

Até aqui são histórias e contos
Uma parceria contra os truques da vida
Uma certa precisão em tempo, para se chegar
Para corrigir, avisar, dividir, acima de tudo, somar

É a certeza inerente a ausência,
é o fato como afirmação do que não se pode fugir
Nos olhos do outro o espelho límpido do que se é

Talvez te conheça menos do que saiba de mim,
Pois a ti não minto nem engano... diferente para comigo
Talvez o conheça tão bem quanto lhe escrevo

Mas ainda acima de tudo isso
Está o fato de confiar-te os dias vindouros
As horas dificeis, os sorrisos e as vitórias!

É com saudade que sentirei,
dessa nossa juventude
Que te escrevo
Pra chamá-lo de amigo.

Mas como não nascemos tão próximos
E podemos escolher seguir sozinhos
E não ter a sorte da mão tão próxima

É que prefiro escolher-me
Como seu irmão

Falante alma

Eu a criei
Suas palavras em mim contidas
Criam asas com o que não fala
Tomam forma com o que vê

Toma-me, como se não houvesse fim
Alimente-se do que é seu
Extraia da minha essência, o seu tesouro
Enterrado em outro corpo

Ainda que vague, em terras tristes
Usa-me, pois a teu castigo fora dado meu vigor
A tua intensidade meu verso
Ao que te fere, meus verbos

Conjugue em cada dia vindouro
A certeza de tua alma falante
A verdade sua, numa poesia distante


Para você.. pois
a fala volta a ter voz, sempre!

Aqui, jaz!

Aqui jaz uma alma
Em um corpo engessado
O avesso, do que se consagra fértil

Do que se estende... ou se entende, segue a
rotina burra, ignorada, morta, não fecunda

Arraigado de ao menos duas vidas
Carrega consigo a nostalgia da manhã insana
É vertente das idéias, solúveis e porosas

Corroídas pelos dias infinitos em suas sinteses
Fraco no sonhar e perpétuo na busca do imperfeito

Aprende a fixar, os olhos num diamante qualquer...
Uma medalha escura, onde senta-se e compactua,
brinda com o anônimo dos vivos
O grito mudo de um adeus agudo.

Tudo que é seu

se a tudo existe... e a você, se vê partida...
se vê metade de si mesma

se o amor que lhe invade, reflete a você
que se transborde de si

que o amor ao texto, e a textura
de letras, se fazem pele

permita-se a ser seu sonho
pense e alimente-se de seu desejo

esse que de tão íntimo é seu,
de tão seu é segredo,
e por segredo ser, viva-o
em si!!!

e no seu avesso, na outra aste
lá na outra margem
ainda espero avistar-te
sorrindo...

e quando lembrar-se,
acene... estarei a espera
por carinho, coisa d´alma
coisa da gente que escreve!

Grito interrompido

Me dê um gole desse cálice
deixe-me provar, beber, degustar
do vinho, que derrama, e se esvai, nos lábios seus
dê-me a morte, como presente

Hoje, não quero as vaidades
de um amor, de um corpo, um desejo
Quero, a tortura da carne, da vida burra
quero a sintese, do que se vive
quero a frieza da alma

Empurra-me, a ignorância, pela garganta vazia
deixe somente o grito, silênciado
um estampido bloqueado a vácuo

À margem da carne

deitado, no ermo de meu estado
no avesso de meu sentido

no fundo, no meu intimo

onde nascem limos
onde adormece meu sentir,

vive a alma, que desconheço
que me invade
e me enfureço

no final, sou eu
que a mim, não permito ser

Mulher

Percorro a pele nua
Dedos, mãos, lábios
Respiro na boca sua
O meu desejo ávido

Fitam-se olhos,
Corpos íntimos,
Agora colados,
Consomem-se famintos

Sedentos de amor,
tateiam os sentidos
febris, em calor
Homem e Mulher unidos

O prazer, agora submisso
às suas covardias femininas
Faz de mim, perdido
Caça, de força, despida

Afligi
mente e matéria
No gozo, que incide
Corpos, agora falidos, congela

Interrompe, tempo
Adormece
Homem

Mulher, agora voa
Como Anjo, pleno
Santifica, sua alma toda
Ergue e salta, feito vento

Some como fada
faz de mim, inteiro
Já carne, reintegrada
Traz orvalho, serena,
Cama e meio

Se deita
de sono, veste a alma
dorme
eterniza a noite
com sua dadiva

Adeus

É aquele abraço de perdão,
pelos dias vazios que hão de vir
é o aceno de mão,
deixado no ar junto ao leve sorrir

É o choro contido
Afeição de quem se vai
quem fica, metade partido
recorre a saudade que cai

Hoje é diferente.

Não quero seu beijo doce!
Quero seus lábios sedentos,
sua língua perdida, sem caminhos.
Mordidas.

Não quero seu sorriso, não hoje!
Quero seu rosto com suor selvagem,
dentes sobre carne, desejo preso, ousadia.

Não quero seus cabelos soltos!
Quero os nós em meus dedos, submissos a
meu tato, amarras de um prazer inenarrável.

Não me dê hoje a sua carícia
Quero seu descontrole, seu percalço de insanidade,
sua loucura inevitável, seu desejo em dedos e toques.

Não, suas palavras meigas, não!
Quero seu verbo rasgado, seu véu desmascarado
seu texto vulgar, sua perdição vocabular.

Nem sua respiração quero!
Quero sua falta de ar, seus gemidos,
gritos, sua vontade reprimida.

Hoje é diferente!
Porque tenho sua carne sob a minha,
seu sexo rendido, seu corpo falido,
eu por dentro de você vivendo o inatingível.

Véu D´Alma

A porta entreaberta é perfeita
O sangue atinge o corredor
A dor ecoa na casa fria

Escorre degraus
Pinga
Gota de tinta
Letra de poema

O texto flagrado
Recoberto de sorriso amargo
Pensamento que não largo

Tremo
Temo
Morro
Véu que rasgo

Subo no seu salto e me elevo
Tendencioso narro
Conquisto mudo o seu quarto

Alma e redenção
Aprisiona o corpo
Saudoso do seu choro

É então poesia fingida
Lançada na parede
Faz-se lágrima em pedra
Mancha minha, sua cria

Fecha a porta de minha moradia
Me afogo no meu vinho
Eu, minha própria covardia

Da janela
A Lua flagra
A ida de minha vida

Pena

Pena
É a vista fria
A prometida tinta
E que mais, não venha

Pena, senão dor
De quem lê
Fome de amor
Letras que seu olho vê

De quem perdeu o dom
Da Pena, resplendor
Grito, ecoa o som
Da fome que morre sem dor

Enfim
Ter Pena
Que se desprenda
A mesma de mim

Teu avesso

Basta-me teu avesso

desnudo em carne
vestido de ti
sobre mim,
pele


lambes-me, lábio
entorpece
beijo dado

meus dentes
de teu seio, carecem
ânsia regente

insinuas
seduz-me
mulher nua

domo teu percalço
faço!
do teu avesso me encharco
renasces e me basto

Palavras que caem

De toda a falácia
Fica só a matéria ruminada
Na sombra do pensar
Preso sem ética à queda

Versos, poetas, é antagônico esse meio
Dor e amor dançam
São palavras, letreiros?
Cartazes da vida, homens que cantam

O cair, chuva de quem lê
Não cadencio os verbos
São as suas incertezas, do que vê
Tudo tão claro, nem poema, nem fatos

Palavras inanimadas
Seres que as libertam
De onde, senão há amarras?!
Do intimo, pensamentos que ruminam

Espera

Se espera,
E espera por não vir
No imo, junto à vontade,
queres senão que não venhas
Volto então a esperar

Por ti ou por novo
Por mim, somente enfim
Hei de ver o tempo passar

Que não julgo amor em tudo
E sim amante do momento
Vem profundo

É ânsia e medo
Do que não vem
Somente, o único desejo

A espera de esperar

Despedida

Há o corpo, que se vai, desnudo de mim
Frase enfim, interrompida
O vento leva, o Adeus teu
Não deixa, senão perfume

Sou caverna e tu, minha chama, escuro fica
Passos, um frente ao outro
Abre-se no chão o abismo de tua ausência
Infinita a distância entre tua alma e a minha

Se vai?!
Fostes, posto então tua vontade
Despeço-me de vidas e sonhos
Dobrastes a esquina a dias

Agora noite,
Levanto-me e acredito
Simplesmente fostes
E eu, eu fiquei

Agonia

Minha poesia ancorada num porto longínquo
A neblina faz do meio uma mancha turva
Não interpreto assim como é impreciso o que vejo

O que sinto e o que escrevo sem contexto
Papéis amassados, jogados ao lado
Borrados, rabiscos e textos entrelaçados

A pena nascente da minha escrita, agora voa
Cai e se assenta sobre a folha branca
Na cor a esperança no pensar a agonia

Toque leve e suave a corromper os dias
Uma, duas ou mais linhas
No crepúsculo a face da lua

És então a folha inteira preenchida
O dançar da paleta, a beleza como guia
Na presença encantada, faz-se rainha e o texto finda

Barco

O barco a margem, vela baixa e grandes remos.
Deitado sobre a água a minha espera.
Sobre o corpo de madeira, curto e estreito.

Ponho-me a repousar.
Sem saber, paro entre o vento e a força.
O desejo posto contra a minha razão me traz os remos a mão,

O medo me recua e a vela cheia pelo ar onde jaz minha consciência,
me empurra antes que eu possa me questionar

O fim do rio, nem eu sei e nem sei se não

O impulso a brigar com meu senso
E encho meu peito de tudo o mais
Mas cresce por dentro e me toma intenso

Tudo o que devora meu ser é a dúvida,
a escolha de seguir ou morrer aqui.

Não tarda em anoitecer

Minhas palavras são erros tolos
tua imagem o meu texto
Minha poesia, toda ela queimada em teus olhos
Arde em mim a chama que te consome
Teu ódio minha sanidade, não tenha medo
Nosso desejo, o único poço de razão
Tudo está tão longe e tudo o que vinga é dor
A raiz é tão profunda, mas temos sorte
No espelho tua imagem, teu receio minha covardia
E minhas palavras são erros, erros tolos
Não se esqueça, minhas palavras são erros
Olhe meu peito, ainda existe coração
Minha alma encolhida, talvez um próximo tiro
Estique a mão meu último pedido
Preciso cantar uma música triste
É preciso ser ouvido
Minhas palavras são erros bobos
Erros bobos de menino
Quem sabe ainda sou criança
Verdades e mentiras
Meu amor, minha única saída
Você e eu, que meu espírito não se divida
Abro a janela, os astros ainda moram acima
Sorria menina, você tem toda vida.

Uma criança

Reparei que ando criando uma menina
Nasceu grande e parece ainda crescer,
afinal a crio sem saber

Ela tem posse de olhos lindos,
parecem com os seus,
afinal é filha de nosso amor

Cabelos como os seus,
e muitas vezes brinca esperta,
e faz doer o peito com agonia

Ela sorri na maior parte das vezes que fico sem você,
é incrível a semelhança
É como se a visse ali refletida no espelho onde ela se vê,
amando sua própria beleza
Sempre que me aproximo ela se esconde,
me parece tímida
Você sempre que chega, ela corre para longe,
me pergunto sempre,
se ela lhe visita

Está tão mais velha desde a última vez que nos vimos,
que agora mesmo enquanto escrevo ela sorri com malícia

Tem a cor de sua pele,
não me lembro quando ela nasceu e me culpo por isso
me faz parecer um homem sem sentido

E a cada dia pareço ver você e não a doce menina
Me espanto quando consigo perceber que não há engano
Que besteira a minha, sempre tão parecida, só eu que não via
É a minha saudade que se veste de teu corpo
E desmorona na lágrima que cai agora fria.

Cansaço

As pernas cansadas, sem força
Os olhos nem serenos nem ávidos, apenas tentam ver o que o vento não mostra
Os passos arrastados, revelam o caráter falido
Os movimentos raros, apenas da cabeça a olhar o alto, o infinito, sem alvo
A queda, o abismo tão fundo que se torna a viagem e não a chegada
A dor, sua companheira, quase fala, o agride em versos
Os textos, jogados, alados voaram não para longe, mas para o vazio do insensato
O fato, não compreendido revigora-se fazendo da raiva a sua perdição
Já não temos corpos nem desejos, na vida o foco opaco
De longe nem homem e nem mulher, é ímpar e familiar
O amor, antes descrito e compreendido, agora caminha na saudade, sozinho
De perto é pedra e não barro, não é modelo é rocha
Partida e desgastada pelo dia, pela noite ou pela lágrima que escorria
Agora já tarde, cai parte e se desfaz

Lapidare

Na varanda, a cadeira vazia mexe ao vento
O esmo, deixado sem apreço, na tua falta minha dúvida
Queria o tempo vencer, encontrar novamente o encanto
O teu sorriso, sentado de longe, apreciava minha vida

Do céu o encontro, tua face ainda viva
Minha palavra procura tua razão
Não sinto o teu peito onde eu dormia
Nuvens escuras, minhas lágrimas alcançam o chão

Tudo que ficara

a semente deixada, inerte
não cresce, nem veste
o corpo meu

e no avesso da felicidade
encontro estático
o rosto seu

a dor, bailarina
dança seu sorriso, sobre a presa
tortura alma, precipício de vida

o punhal que a mim corta
é seu verbo envenenado
seu "não", com grosseria decorado

é a mentira em prosa
da saudade perdida
que a sua vaidade decora

a sua forma, hoje fria
de quem já não olha
para olhos ou manias

de quem esqueceu
que esquecer é mais difícil
que viver

o sofrimento meu
amarga em lábios
que jamais a mim pertenceu

A tua espera

Estou a tua espera, como os anjos esperam pelos ventos
O teu calor, transmitido por tuas palavras, fazem do teu
corpo meu desejo
Teus beijos alados ao ar, fazem de meus lábios, oportunistas

Minhas vontades se fazem loucura, meus segredos me consomem,
teus mistérios, minha ânsia, menina, mulher.

És do meu corpo Rainha, e de meu zelo princesa, sou menino
a clamar por teu amparo, e homem a implorar por teu carinho,
criança a pedir-te abrigo e jovem a espera de um ninho.

Se teus olhos fossem - agora! - meu espelho, seria teu todo meu brilho
Se fosse tua carne todo o meu mundo, seria o prazer,
o meu presente entregue em abraços largos a teu seio

Sou teu assim como é do tempo o mistério,
do corpo a loucura e do amor o prazer.

Criador x Criatura

Me deixaste a ver a brisa, apenas por distração.
Contemplei o por do sol, e aprendi sobre o fogo.
Vivi o nascer da lua, e aprendi, o valor de brilhar.

Por muito o "nada" não irá mais me engolir.
Tive uma capa, a garoa fina que me cobria com braços largos.
O frio veio a meu encontro, na mesma noite.

Fora me dado o dom da escrita na manhã seguinte.
As pedras eram ásperas e já me doíam as costas.
Eram vãs minhas palavras, as mesmas não tinham retorno.

Assistia, a meus aprendizados, como um Deus, que se distrai
com sua própria criatura
Se apaixonou, por sua criação.
E me ensinou a sonhar, em uma noite de tempestade.

Me ensinou a voar, como anjo,
mesmo sendo fada e integra em tua carne de mulher.
E me deixara, agora perdido em tua ilha, tão cheia de sangue teu.

Foi quando, percebi estar preso a ti.
Morava entre tua mente e teu sentir, abrigava teu coração