17.8.10

A folha e ele

Parei naquele momento em que a folha caia
Segundo a segundo, dançando nos braços dele
Pensei que nas suas hastes haveriam mãos
E pude vê-lo segurando-a com jeito leve

Movia-se de lá para cá, caindo
Sua pele bronzeada do tempo
Cor de coisa seca, antiga
Foi então que pensei

O tempo que ele a esperou por este segundo
Eu testemunha
Da folha
Enamorada pelo paciente

Que a esperou cair em dias enormes
Fez turbilhão para tê-la em seus braços
E nada, mas chegara a vez
A vez do destino, própriamente

E o acaso me deu o tempo
Eu ví a folha
Que enamorada pelo vento
Pousou o chão

Há quem diga, que vale a vida
Esperar por um só dia
De amor puro
Disse o vento ao deixá-la em vão

O que somos

Às vezes temo ser parte daquele amor
que nasceu só para se ter conhecimento do tamanho e da força.

Que existe na distância, na solidão,
no frio e na dor
Mas jamais na realidade dos fatos
Do tocar, do sentir...

Um amor que vive de platonismo,
como duas estátuas que se olham no jardim da eternidade.

Nessas horas é quando morro na nossa história.

Em um final de filme...

Onde o lago é lindo e cada um olha de um lado, o reflexo do outro.

Só você me mata e me faz renascer.
Hoje sei porque acordei para morrer.

Agora faz sentido.
Nunca mais fui eu somente.
Eu só existo por você.
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Escrito por Roberta Carvalho / Raphael Neves

6.8.10

90 anos

Aos noventa anos, quando fiz
Dei-me o prazer dos trinta
Aquela sedução acentuada pela aventura

Me lembro dos pedidos frente ao novo ano
Quis o mundo todo, numa golada só
Só que agora assim, de jeito estranho

Nada do peso e compromisso da vida dos adultos
Eu podia ser jovem, como criança à beira dos dezoito
Podia ser, só por ter noventa anos

Me dei a idade, calei os lamentos do corpo
Por saber que a mente é essa fogueira acesa
Incessante

E lá no sofá da sala
Decidi,
Trinta anos!

E nunca mais envelheci.