25.10.10

No meu jardim

Dê-me um gole de sua mulher
dê-me seu vício, seu desejo a pino!

Arranca-me de dentro de mim!
Esse homem que perdeu seu próprio encanto
Força-me, prostar-me-ei ao seu desejo
se de mim, me mover...

Pois a cada encanto simulado
a cada desencanto partido
me envolvo nas palavras permicivas
de um amor, de um desatino

Só para ver brotar no meu jardim
uma planta com nome e cor
E assim ao cuidar, lembra-la e chamar de minha

23.10.10

Estrelas

A simplicidade é a genialidade da poesia,
afinal você é essa imensidão toda e ainda assim intocável.

Essa abstração do inverso de não estar.
Estar só é estar demasiadamente acompanhado de som,
cheiro, sentido...

É olhar o amor, só para ver.
Apague às luzes ao me ler,
leia estrelas.

19.10.10

Sorrisos

Sábios são os sorrisos que dormem no úmido de teus olhos
Escorrem pela face clara de tua retina, assim suaves
E de alguma forma aconchegam-se nos becos de teu passado

Sorrisos sonham acordados com tua inocência
Indecentes, roubam tua vista e a olham por dentro
Justo quando teus olhos ignoram o mundo lá fora, fechados

Já me perguntei se sei dos meus sorrisos todos que moram em você
Você sempre fala de rosa, coração e espinho
Eu ainda nessa infância de gente grande, falo de pulmão, olhos e ouvido

Você finge saber-me tão perto mas é fato de que nunca nos vimos
eu ainda sento no meio-fio, à esquina da vida

Sem vê-la, tu doas teus sorrisos todos
Que guardo sem saber

15.10.10

Eu ví!

Eu já perdi tudo, até essa escrita que você concede
Joguei ela aqui e ela escorre, entre seus olhos
Como escapara de cada um dos meus dedos
Perdi você, não em mim, mas por sonhar em ter!

É fácil perceber que o reflexo da vontade
É da frustração a face
Favorece à minha desordenada ordem sua
Assim tão inteira e segura na rotina,

Vai me dizer, você não viu perder o sabor?
Você não me viu, perder o número do seu abraço?
Seja sincera, eu perdi a medida dos seus sonhos!
Você não me viu acordar quando veio dormir?

Mas me viu olhar,
Molhar os olhos com a dor
Eu ví!

14.10.10

Vermelho viscoso

De alguma forma pareço ancorado no seu porto
Eu quero te espantar ou fugir, correr
Mas a minha alma não acompanha
E vivo essa luta com meu corpo

Parei em você,
Ainda que tenha mil gostos a provar
A certeza de ter colhido um fruto na árvore da vida
E conhecê-lo o sabor,
Não me cede mais que a dúvida, nunca o interesse humano do desconhecido

Vai ver a alma se preocupa com o tempo, a segurança
Do que com a calunia da juventude eterna, de sempre se lançar ao mar

Vai ver viverei em você tentando fugir de volta
Longe alma, sendo apenas corpo

- Espera! Escorre algo no meu rosto, brota dos olhos... (diz você)

Use para ler melhor, a vida é mais borrada que clara.
Deixe embaçar a vista e me veja, pois clareza e transparência é mentira,
a vida é vermelha e viscosa.

5.10.10

Na esquina de um amanhã

É verdade, eu a perdi
Perdi você no meu amanhã, na minha insensatez
Nesse meu querer tamanho
Que o hoje me devora

Eu a perdi no meu futuro e isso já faz tanto tempo
E só porque sonhei que seria você
Eu lembro, olhei nos seus olhos e disse
É você!

Foi!
Foi até o meu amanhã
Quando sentado naquele banco na esquina da sua vida
A ví passar de mãos dadas com o acaso,

Passeando com sua liberdade prometida
Cem pássaros pelo céu
Sem passos seus, sentei
Sem passar, passaram vocês

Eu sofrerei sempre
A certeza de "ser" você
Por jamais ter sido