27.5.09

Colmeia

Ah, teus verdes olhos castanhos!
Do mel, teu

Que no tempo,
Fizera doce, tua ousadia
De me cantar saudade
Na tua despedida

E minha companhia
Solitária brisa
Fizera-se rainha

Calma colmeia, cálida
Que ensina

Todo silêncio esconde um verbo
Uma verdade seduzida
Cada esconderijo
Uma chave,
Sopro do desejo

Capricho vaidoso
Do deslumbre, da vida!

Inflamada alma

A dúvida vinga-se
Porque é ela a armadilha
Do destino

Minha inflamada alma
Arde cada dolorido pensamento
Nativo do passado enriquecido

E a vida, que sua metamorfose
Nos devora,
Saboreia!

De mim e tudo meu
Do teu sorriso, inicio
À minha, salgada, lágrima sua

Duvido eu, da vida
Essa mesma que me escreve
E não revela a tinta

Não mostra, nem mesmo,
A próxima linha
Nessa silhueta de poema
Ainda que seja só poesia

22.5.09

Visita

A ví esta noite, vinhas em minha direção, como uma brisa fria, que cortara o quarto.

Muda, com a expressão mais linda. Sorrias, sem mover a face, teus olhos descreviam o mais virgem prazer, fazendo com que meu corpo respondesse com um suspiro, fora o mesmo que tragar de uma bebida quente em uma noite de inverno.

Vestias-se como uma princesa. Um vestido longo, cor salmão, pude ver quando o mesmo deslizara por seu corpo.
Com um toque suave de tuas belas mãos, ao ombro, soltando uma das alças, que até o instante o prendera.

Desferi um movimento, o qual cortara, sem som o ar de silêncio que nos envolvia, teus olhos agora fitavam os meus, teu colo se encontrava nu, e a beleza feita de pano, dobrara-se sobre minhas mãos, envolta a tua cintura...

Foi quando se virou, senti o toque leve, sobre minha pele. Poderia então eu ver o quanto era bela tuas costas nuas, apreciava o adormecer de teus cabelos ao ombro.
Teus pés, eram firmes e lindos, caminhavam um frente ao outro, como a quem passeia nos bosques à busca de flores.

Sem mais ver tua forma, pude ouvir o bater da porta,...
leve, como a quem pedisse perdão.

18.5.09

Aço em brasa

Ele vem cortando o ar, com seu corpo em brasa
Sua rotação, translada em velocidade, vara
Corta vento, verte rubro

Dedo contraído, direcionado ou não, propulsiona
O estrondo, insinua sua força
Tamanha, que a covardia é corrompida

A menina que corre, brinca
Entre bonecas e cinzas de pedra
Garoto briga, corre com arma, atira

Adiante, outro grita...
Há medo, no assovio frio, zumbido
No anúncio da eminente morte, efémera

Pára, tempo, entremeio de agudo à queda
Olharia teus olhos vermelhos se os tivesse!
É fugitivo escravo, à serviço do meio

Congela o mundo, mudo
No seu trajeto, caem corpos
Dois em sintonia, menino e menina

Um pouco dele morre, na morte alheia
E na retomada de tua fúria
Tufão metálico, de aço

Leva da degradação à esperança,
Ao culto coletivo do silêncio atrofiado
Leva ainda, à cabeça as mãos,

Lágrimas a ermos rios, vazios
Que desaguam em vermelho vivo
Onde dorme o tiro

Agora silência, cega,
Rotineira violência que nos apodera
Por acharmos que o medo, à fala cala!

Vento frio

a casa, ainda continua vazia,
a porta do quarto entreaberta

o silêncio é pavoroso
sua imagem turva passa vez ou outra no corredor, ou no jardim,
mas em perfeito engano a imagem se desfaz e te leio
na folha que voa no vento frio que vem pela janela

hei de te ler toda vez que tua imagem me assombrar
com a certeza de que existir é ir além,
é sentir,
o que nem sempre se expressa!