4.5.10

Há outro(a)

E seu beijo era doce
sua loucura, era meu torpor
era seu braço meu acalanto
seu nome meu encanto

sua boca então fez-se faca
arma branca sim
enterrando-se em outra que não minha
cortara o peito meu

esse braço que me abraça
é meu sagrado manto
castiga-me com as chicotadas dos dedos leves
e me arranca o sono com a textura
do lodo, sujo, de outro corpo

e quando me tomas, meu corpo
que não pertence a mim e nem o seu que é meu
somam-se, há um impulso
esse de carne, parece haver sangue e dor

e bebo esse fél na fonte de sua miséria
e tudo o que tenho é o resto do que não querem
meu exílio é ser sombra de mim,
na pena de mim mesmo

morro sempre que volto a ser seu
e hoje, encarno um corpo novo
o que me visita, e me encanta
por não ser você,

enquanto visto-me de algoz
na armadura feita por suas vãs atitudes
e assim, tomo o corpo que se entrega
e dormimos como cumplices

e te verei à noite, para comemorarmos
a morte de nós mesmos.

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