6.3.14

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A gente já não fala mais a mesma língua
Você busca abrigo em antigas marquízes
Eu me escondo numa nova vírgula,
Enquanto a sombra torneia nossos deslizes

Você faz cair folhas passadas
Agitando uma velha árvore
Pintando a minha calçada
Dessa tristeza de mármore

Pouco nos importa, além do que era posse
Sobrou de mim um livro lido
De você, um desejo de sorte

Sabe aquele corte?
Passou, remediei com soro e gaze
Sabe aquela frase, que você gostou?
Eu guardei com tudo que sobrou

O que não passa mesmo é a gramática
Quando eu falo de pronome possessivo
E você usa livre como adjetivo
Nessa nossa errante temática

Vai ver foi sem querer
Que a gente não deixou de gostar
Nos apertamos num encaixe de ter
Para esconder em qualquer lugar o dar

Vai lá e sorri na cara dele a beleza que não soube extrair
Que eu vou ali,
desmedir o beijo que sempre foi seu

Abraça-o tão forte, mas sem mentir
Que eu vou ali,
dar o meu amor como se não tivesse conhecido o seu

A culpa é mesmo do nosso português,
pois o eu não combina com você
Mesmo que você, combine com aquilo que era meu

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