14.12.15

Música

Pois na música da vida, dançar é um deleite à parte.

A quem falo de amor

A quem falo de amor, muitas vezes não me escuta, pois nem sempre pode me ouvir
A quem entrego o que sou, não sabe o caminho, só conhece a medida do doar-se em precisão
A quem me dou, sabe, mesmo sem saber, que embora seja sempre água, ha diferença entre,
Cobrir os pés e cobrir o corpo!
Quando falo eu, de amor
Não me escute, leia meu verbo
A quem falo de amor, falo com barulho nos atos
Silencio à boca, só a abro pro beijo
A quem falo de amor.

4.11.15

Colheita

Às vezes planto ausência,
...para colher saudades.

Mas de alguma forma semeei indifereça
...e acabo por colher descaso.

30.10.15

Jogo de dados

Matamos nossa responsabilidade (!),
nos demos de presente o descaso.
O trabalho e a conquista, como recompensas
daquilo que recebemos por pura sorte

17.7.15

Brincar de mentir

Uso as frases como brinquedo
e não há uma, que não seja verdade 

Você brinca com a verdade
 e não há uma em que se possa acreditar

10.7.15

Desgosto

Perdi o gosto pelo futuro
Estou preso às minhas melhores lembranças
Implorando-as, uma qualquer coisa de agora.

8.7.15

Quem mata?

No mundo em que vivo
Há quem fale de deus e mate
à sangue frio mesmo
Empunhando preconceito, como arma

A fome, ainda mata
A indiferença, acredite você
Mata!
O ladrão, morre se a gente vê

Até a gente mata,
nos dias de hoje.
Quando se cala
Quando aceita mudo

esse gole intolerante
De que a desculpa serve como ladra
para que se tome à vida na marra.

Na tentativa vã, de mostrar seu valor,
quem mata?
Quem acredita, que se paga com morte,
à ignorância de não ensinar,

O valor da própria vida.

7.7.15

Pontos

Que ainda lhe sobre doçura
Quando o mundo lhe for amargo

Que ainda lhe sobre um som
Quando o mundo for silêncio

Que sobre lembrança
Em dia de esquecimento

Que sobre um sorriso
Em dia que formos chuva

Que nos sobre um pouco de humano
Quando formos tão feras

Que sobre em nós
Um pouco de eu

Que sobre letras
Para tantos pontos

6.7.15

Sol

Toda vez que duvidei do sol,
foi por ter me distraído com o tempo,
vai ver é assim também com o amor.

19.6.15

Passível de mentira

A pedra que bate em minha janela
É esse silêncio rochoso
É essa certeza indelicada
Com seu efeito doloso

É passível de verdade
Todo meu desinteresse interessado
Toda minha vaidade

Da sua ausência, duas letras e um nada
Das certezas, uma palavra nova mal colocada
De todas as mentiras dissertadas
Coincidências descartadas

É passível de mentira
toda rima que culmina
Nessa blasfêmia toda minha

Para os verbos insaciáveis
Minha loucura justifica
Toda uma razão que rumina
Doses de desejos irrefutáveis

16.6.15

Indiferença

O meu sorriso, que não sorri pelo seu,
Não faz diferença!
O seu sorrir, que o meu saber desconhece,
Não faz diferença!

Que diferença faz, o meu agora?
Agora?
Agora não faz diferença!

Desacostumei de sua presença
Qual a diferença?
Desacostumei ainda, de sua ausência

E se não for verdade,
qual a diferença?

Não importa mais
Sobrara nossa indiferença

15.6.15

Sentido distorcido

Há uma distorção, no meu não.
Amor é um verbo que não se conjuga no passado.
Meu pretérito é um talentoso nato

Quase vive, nos meus agoras
A hora não encena, seus minutos
O fato, fotografado

Revela um arrastar de rodas,
Uma dissonância, com o barulho do seu silêncio
Que eu engulo à seco.

Um bêbado de memórias
Absolvidor de certezas condenadas
Às eternidades de seus percalços

1.6.15

Seguros, seguimos.

De alguma forma parece que vai passar, parece que vamos amadurecer na manhã do dia seguinte e dar vazão a tudo que sonhamos. Parece que resolveremos nos colocar à luz da maturidade e oportunidade, anunciaremos que o dia chegou e que agora é a hora de assumirmos tudo. Descrito assim, parece que ao ler o coração pega carona na ladeira do entusiasmo e como para descer todo santo ajuda, seguimos sem ter que por a mão na direção, é só deixarmos ir e iremos.

Errado!

Não sairemos daqui, de onde pegamos o trem andando, antes de escolhermos a estação adequada para descermos. Parece que a viagem virou um exílio, não têm passageiros no vagão que entrei. Exilados do amor, nós encontramos uma galeria de prediletos das dores, sem a força e a fé do impulso de tomar a vida pra si.

Seríamos tão mais felizes, dois passos à frente, na chuva mesmo.

- Você já foi feliz na chuva? Eu já!

Quero dizer de quando a felicidade é tamanha, que o frio vira motivo de riso ou desculpa para um abraço mais apertado, não esfria, o molhar da roupa não incomoda, mesmo que ainda lhe falte uma condução até em casa, ou uma caminhada demorada.

Mas se vamos sair daqui? Não, acho que não! Perdemos para a repetição dos dias, perdemos para nós, perdemos para o nosso começo, não era pra ser assim, mas agora que já foi, pode-se somente acomodar-se no que é, pois ser mesmo, não pode.

A gente só está na composição, torcendo pro maquinista não sair em qualquer estação, ou que o destino final, por sorte seja o mesmo de quando embarcamos. Ninguém pensa em descer, por que lá fora faz frio e as estações andam vazias demais, talvez tenhamos que aceitar, que mais cedo ou mais tarde, toque uma espécie de sinal e que saltemos com um adeus perdido em mãos, ou quem sabe, seguiremos aqui, do lado de dentro, nesse trem vazio, acento duro, mas seguros. Seguros! Só ainda não sei bem de que.

28.5.15

Clava da vida

De qual mentiroso são todos os dias pares
A quem pertence esse dizer
Que a felicidade é provada nos ares?
Com esse cinza que decoro meu ser

Se sempre sorriso, qual então sua graça?
Se sempre tristeza , que alegria mereceria?
Que amar, não fere a dor de não ser farça?
Que farça amordaça a felicidade que seria?

Da tirania da vida, ninguém escapa
Ora, se sabes-se vivo, que há de mistério?
É de sua clava,
todo querer, sofrer seu demérito

Que tolice a de ofertar-se ao tempo
Um dia, o mais antigo
Terá dito, que fizera dele seu amigo
Para fingir ao fim, empenho

Então, guarde seu palavrório
Esse júbilo falacioso
Hoje eu sou crematório (de mim, é verdade)
Uma cortezia cinza de um morrer audacioso

Ceifadora

Tem dias que a natureza deveria ser carinhosa com a nossa ínfima expressão de existir, nos tirar a vida como uma mãe que nos dá colo. Carinhosamente, até que os olhos se fechem. Tem dias que morrer me soa mais como um sorriso que como um adeus de qualquer tipo.

18.5.15

Desconstruindo

Eu gosto de me desconstruir
De esticar a vida pra entender a falta
De grudar até ser composto por parte do outro
De justificar com encanto a razão
Eu prefiro me desfazer em farelos
De abraços,
De olhares,
De gostos
Assim, me decompondo inteiro
Fatias de mim
Que o tempo leva como rasura
De um advir perfeição
Eu ainda prefiro ser poeira
Essa que gruda com o vento do sentir
Na superfície desértica de sua pele
Como se fosse, das suas pintas, o contorno
Eu ainda prefiro morrer no sim
Tempestade de mim
De querer ser
Levado como areia pelos seus pés
Que deixaram pegadas
De que um dia, você passeou em mim.

2.4.15

Mil preces

Que se abram, mil portões
Com o seu silêncio

É nele que dorme a fé
Da senhora, que a saudade abate
Ao amor que foi dormir lá fora

Da dor que não cala
A felicidade que ficou
Antagônico ao ausente que pareça

Ela tem pressa
que atendam sua prece

Distraído

Hoje, passeando distraído
Tropecei no seu sorriso
Desculpe,
E esbarramos de ombros, na vida
Foi sem querer,
    que ao lhe descobrir
Me apaixonei pelo acaso

4.2.15

Culpados?

A culpa nunca foi das suas promessas
Foi do meu acreditar que se apaixonou por elas

Não foram suas faltas, foi a preferência
Eu não mudei o sabor e talvez você preferisse algo mais amargo

O tempo foi uma das vítimas, era novo demais
Engasgou-se com tantas histórias pela metade,

A realidade deu um tiro no futuro na frente dos nossos olhos
Alguém sequestrou a esperança e como resgate nos cobrou mentiras.

Me lembro do choque ao encontrar a certeza.
Era ela quem sussurrava verdades que fingia não saber.

Não, a culpa não foi das suas promessas,
Foi do meu acreditar, que gostou de cada uma delas.

Descobrimos que a saudade tinha sua irmã gêmea e que nós a separamos
A convivência com ela sempre foi a mais difícil.

Foi cedo que ela fez amizade com a loucura,
E para que como irmãs se vissem, guardavam segredo.

Hoje eu ainda lhe dou abrigo, faz tempo que não vê sua outra metade
Envolveu-se com um tal de silêncio, agora já o recebe em casa

A loucura anda se consultando com a razão, já não se falam tanto
Mas a culpa foi mesmo do meu querer

Ele insistiu em suas promessas,
Eu só quis acreditar em você.

21.1.15

Falta

Falta, tem um quê de lembrança, uma fatia de querer e umas duas metades, uma de futuro e outra de passado. Falta, não é uma regra, nem uma imposição, é um caminho que o sentimento encontra por ser livre, para aonde ir. Falta é aquele olhar de cão sem dono, que ao se despedir, corre à porta e olha pra quem quer que seja perdido: "Não é você! Cadê?"; Falta é essa atmosfera de saber onde, quem, quando, tocar isso com os olhos fechados, se sentir imenso e ao abrir, olhar no espelho de si mesmo, falta. Falta não é se saber metade, é saber-se inteiro para alguém, que sendo inteiro também, se oferece para ver que ser, está muito mais ligado à incompletude de ser inteiro, do que ser metade de fato. Falta não é o que ainda virá, é aquilo que previamente sabido, o desejo pede no presente. Falta, está bem mais próximo às palavras que não encontrei para explicarem o seu sentido, que a todas as escolhidas, por uma pequena definição lógica. Tentando lhe dizer a falta que faz, percebo que dizer é encontrar, e a falta que faz, não encontra palavra nenhuma que a defina, ela falta por inteira...

13.1.15

A tristeza tem sempre uma esperança

As pessoas não gostam mais de amor em poesia, preferem aqueles dizeres de um anônimo, como se pudesse contar uma história boa do inicio ao fim, sem falar das partes ruins. Ensaiam a felicidade pelo sorriso, sem saber que atrás de cada sorrir existe uma fatia de lágrimas escorridas e outras secas e outras tantas, bem contidas. Tenho lido tantas fórmulas do amor certeiro e livre, como se o exercício do amar bastasse para acertarmos as contas com nós mesmos, sem termos aprendido antes pelo erro. Embora eu não concorde em nada com a máxima de que é pelo erro que se aprende, pois para mim é pelo erro que se erra e se machuca. A dor nos faz evitá-la, de punhos cerrados ou coração apertado, não importa, e a isso chamamos aprendizado. Aprendiz mesmo, pra mim, é aquele que sabendo que magoar dói por ter visto a mágoa fazer mais uma de tantas de suas vítimas e escolhe por não fazê-lo, ou aquele que aprendendo a gostar de si e investindo em seus sonhos, colha com os frutos de viver o que sonhara. E vale lembrar que gostar de si mesmo requer um exercício diário e longo, afinal é você quem mais lhe causa infortúnios ou males a qualquer outro. Por vezes por dar valor a algo que não merecesse, ou por ter mudado de opinião nos trinta minutos do segundo tempo e querer parar o jogo com o estádio lotado, mesmo sendo o juíz, ou por simplesmente não gostar mais de vestir azul e se deparar com um armário que mais parece o céu e perceber que não tem o que vestir, mesmo com tanta oferta. Dada as proporções das dores que sofremos, de certo mesmo, é que temos que lidar com o que escolhemos e aceitarmos a nossa responsabilidade em nossa busca pelo que nos faz feliz, que a tristeza não é só um antônimo deste estado, como uma companheira incentivadora de nossa busca, é para que não sejamos tristes que buscamos essa tal felicidade, mas não difamaria qualquer tristeza que passei, afinal foram elas que me deram as marcas das minhas gargalhadas, essas que insisti em dar por saber o valor mensurado em cada fatia de seu avesso. Mas como eu ainda sou um desses que gosto de poesia, pra mim meio verso quase basta, "A tristeza tem sempre uma esperança, De um dia não ser mais triste não" (Samba da Benção - Vinicius De Moraes / Baden Powell).